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More Posts from Wagnerrms and Others

9 years ago

Confere aqui, novas opiniões sobre Mônica! As primeiras impressões da Srta Kelly, carismática resenhista do Aventuras na Leitura, sobre meu livro Mônica. Críticas são super bem-vindas, mas, cá entre nós, elogios também são! ;-)


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11 years ago
Terminei O Tutorial Do Scrivener, E Construí Meu Template, De Forma A Manter Sempre Que Possível Uma

Terminei o tutorial do Scrivener, e construí meu template, de forma a manter sempre que possível uma estrutura padrão para meus livros.

Estou pronto para surfar na Arte!

O Scrivener que uso é ainda uma versão trial, mas resolvi tirar um gostinho para ver qual motivo da empolgação dos colegas escritores, já que este editor está atraindo a atenção de quem pretende ser o “amador que não desistiu”, pois é um editor de textos feito exclusivamente para Romancistas e Roteiristas, segundo dizem assim, com erre maísculo. Ele tem recursos bastante atraentes para quem quer seguir a profissão, tais como foco na criação, quadro de cortiça organizado em cartões referentes a cenas e sinopses, pesquisas e arquivamentos destes dados acoplados, gerenciáveis e sempre à mão, gerador de nomes de personagens, possibilidade de uso de templates (você os acha gratuitos na Internet) com a estrutura montada para contos pulp e romances, por exemplo, usando técnicas consagradas, ou mesmo roteirização de cinema e quadrinhos dentro de normas internacionais.

Um template interessante que achei foi focado na Jornada do Herói, conceito criado pelo antropólogo Joseph Campbell, e que está por trás do escancarado alcance do cinema norte-americano por exemplo. Mas no final das contas optei por montar o meu próprio template, seguindo a estrutura que venho aplicando aos meus livros já publicados.

Mas, retomando o editor em si, a possibilidade de se obscurecer tudo o mais na sua tela e ficar mano a mano com seu texto, ao simples clique de um botão, é outro recurso bastante legal. Criar não exige uma tonelada de recursos, é só você, suas referências interiores, um teclado para batucar, e uma folha em branco sempre gritando na sua cara que você pode fazer melhor que aquilo!

Existem outros tantos recursos que fazem o Scrivener ser tão desejado por nós, que escrevinhamos com paixão, como gerar backups automáticos que você pode apontar para uma pasta em seu computador onde você previamente instalou e sincroniza seu conteúdo com um servidor em nuvem, como o Dropbox ou Google Drive, etc, etc, etc, eu aconselho a leitura do artigo que me fez experimentar este editor, onde Fábio Yabu explica o por quê de ele crer que todo o escritor deveria usar o Scrivener.

Scrivener possui versões para Windows e Mac, sendo originário, até onde compreendi, desta última plataforma. Instala-se (quase todo, menos o tutorial, ugh!) em português, e justamente por ser focado na criação, exige aprendizado mas é bem mais simples (embora mais poderoso se consideramos seu foco) que o Word, ou seja, você aprende fácil.

Gostou? Experimente você também: Site Oficial, com download de versão de testes!

"Elimine toda palavra supérflua". _ Ernest Hemingway.

Booooa, Ernest!


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5 years ago
Especial Fantasia @amazon Livro 4. _____ #ficçãocientífica #Scifi #WagnerRMS Https://www.instagram.com/p/B90j3OODISa/?igshid=1f2qqllw408i1

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11 years ago

Pelo menos o seu Deus tem a condescendência de assistir ao seu sofrimento calado. Os meus riem e se divertem!

Dupret@003.25 (VRP - Virtual Reality People - de Jogo Virtual de Combate Metahumano, em "Teoria da Virtualidade" © Wagner RMS).


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11 years ago

Aqueron (*)

Mais um trabalho original para vocês, caros leitores. Este é um roteiro para um scifi televisivo, com toques de suspense e terror, e ainda guarda parte da formatação original em que um roteiro é escrito, que difere em muito de textos romanceados. Repare por exemplo que as falas não tem travessão, mas são antecedidas pelo nome do personagem que fala. Espero que vocês se divirtam, e, quem sabe deixem suas imaginações fluirem de tal maneira que lendo este roteiro, se vejam investigando a miteriosa nave desgarrada junto com os protagonistas, e tomem um ou dois sustos... ;-)

image

Roteiro Original de: Wagner RMS & Flávio Langoni.

(*) Aqueronte: Filho de  Hélios e de Gaia,  foi transformado  em rio e precipitado nos infernos como punição para uma antiga  falha; tinha fornecido água aos Gigantes quando estes lutavam contra Zeus (Júpiter). Suas  águas  são  amargas,  lodosas e burbulhantes. Transportados pela barca de Caronte (Queronte, Caron, Charonte, Charon), os mortos devem atravessar este rio para atingirem a morada definitiva. Também chamado de rio Styx.

Canto III - A Divina Comédia - O rio Aqueronte:

Por mim se vai à cidade dolente, Por mim se vai à eterna dor, Por mim se vai à perdida gente. Justiça moveu o meu alto criador, Que me fez com o divino poder, O saber supremo e o primeiro amor. Antes de mim coisa alguma foi criada Exceto coisas eternas, e eterno eu duro. Deixai toda esperança, vós que entrais!

TITLE CARD:

"PARTE I

GÊNESE: NAVEGANDO EM AQUERON

O INÍCIO DO SÉCULO 22"

O VAZIO ENTRE OS PLANETAS, ONDE UMA ESFERA BERNAL, HABITÁCULO DE AÇO, GIRA LEVANDO EM SEU INTERIOR CIENTISTAS E HOMENS DE FÉ, QUE QUEREM ATINGIR O CAMINHO ENTRE OS MUNDOS.

No casco, por enquanto polido, da esfera, lemos uma série de traduções, para várias línguas, da palavra “Fé”. Terminamos confrontando a palavra em português. Então nos afastamos e vemos o todo, e a esfera gira, lentamente, enquanto sua superfície reflete tanto a luz do sol mais próximo, quanto a suave radiância das estrelas distantes. Uma série de torretas alinhadas em sua linha do equador parece incandescer lentamente, enquanto vozes no rádio conversam com uma distante e oculta base:

ESFERA:

“Estão nos ouvindo? O sistema de criptografia online está funcionando bem? Essa é a comunicação número seis. Depois dos dois meses de silêncio de rádio, estamos prontos e vamos abrir os portões agora. O núcleo sofreu ondulações, mas está operacional, e as torres de dissipação de campo estão se aquecendo, a qualquer momento o rajada de plasma-quantum deve abrir o canal de contato entre as branas.”

BASE DE OPERAÇÕES DO PROJETO AQUERON – GUIANA FRANCESA:

“O sistema está permitindo comunicação indistinguível do ruído de fundo do espaço. Mas aqui o decodificador está funcionando muito bem, recebemos sua transmissão de número seis claramente. Desejamos boa sorte, que vocês encontrem A Verdade...”

As torretas estão acesas, e um campo de distorção se forma em torno do equador da esfera, e se expande, cobrindo lentamente a superfície da esfera...

ESFERA:

“Amém. Muito bem, o campo se formou e está estáv... E a qual... Disparo de plasma... Devem estar ocorrendo distorções... Rádio... Todos estamos muito felizes!”

As torretas subitamente explodem, em sequência, silenciosamente, e o campo que cobria a esfera vai escurecendo, até que se percebe que a esfera desaparece lentamente.

BASE DE OPERAÇÕES DO PROJETO AQUERON – GUIANA FRANCESA:

  TITLE CARD:

"PARTE II

O VAZIO: ENTRE A TERRA E A LUA

PRÓXIMO AO FIM DO SÉCULO 22"

VISTA DO ESPAÇO, EM PANORÂMICA, MOSTRANDO A LUA EM PRIMEIRO PLANO, E À DISTÂNCIA, O PLANETA TERRA.

Pode-se observar estrelas fulgurantes que se movem de cá para lá, que nada mais são que o rastro de poderosos foguetes das naves em tráfego entre a Terra e seu satélite. Vozes no rádio parecem entretidas em monótonos diálogos, controlando o ir e vir de naves. Subitamente, vinda da noite eterna, uma forma sombria e esférica começa a eclipsar a lua, e as vozes no rádio se exaltam:

CONTROLE DE VOO WELLS VILLAGE – LUA:

“Aqui é o Controle de Tráfego da base lunar Wells Village. Temos um estranho no radar. Tem algum veículo de carga a zero-sete-zero da elíptica que não se identificou?”

CARGUEIRO LANÇADOR MAGNÉTICO VESTA:

“Wells, aqui é nave de carga Vesta RX 7792. Essa não era minha janela de lançamento? Tem mais alguém lá?”

Há uma pausa. Enquanto a esfera, lentamente, cobria toda a lua, tomava mais e mais substância, como que solidificando, feita de alguma massa escura como o vácuo, que vai tomando a forma e o peso de aço em lâminas enegrecidas e semidestruídas. Pode-se perceber que a imensa esfera deixa um rastro de pequenos objetos, pedaços de sua couraça que parece se desfazer lentamente. Então os diálogos de rádio recomeçam:

ESTAÇÃO DE ÓRBITA INTERMEDIÁRIA TSIEN:

“Aqui é a estação Tsien RY 33, falando. O que vocês tem aí, em 0-7-0, Wells? Nossos detectores gravimétricos apontam uma grande massa vindo em direção à rota de Camberra. É um meteoro?”

NAVE DE TRANSPORTE TERRA-MARTE ABRAHAM LINCON:

“Até daqui podemos ver a coisa! Somos a Lincon RX 3459 e estamos a 0-2-3, e podemos ver a esfera daqui. De quem é? Não é americana.”

CARGUEIRO LANÇADOR MAGNÉTICO VESTA:

“Wells, da Vesta de novo. Suspendam os lançamentos. Tirem todo mundo daí.”

ESTAÇÃO DE ÓRBITA INTERMEDIÁRIA TSIEN:

“Ela vem direto prá nós! Se resvalar em nós lança a Tsien sobre vocês, Wells, se o choque for direto, explodimos sobre o Amazonas. Tirem essa merda dali! Vai acabar matando muita gente!”

CONTROLE DE VÔO WELLS VILLAGE – LUA:

“Calma, Tsien. Vocês são a prioridade. O pessoal da Busca e Salvamento já foi acionado. Calma! Temos... Cerca de 12 horas para o primeiro impacto. Vai tudo correr bem...”

O ponto de vista se desloca, girando pelo espaço, indo direto contra a luminância radiante do sol. As vozes no rádio, agitadas e nervosas, vão se calando lentamente, como que perdidas na escuridão que ficou para trás.

Aqueron (*)

TITLE CARD:

"PARTE III

NAS SENDAS ESCURAS: SOB O UMBRAL

6 HORAS E 27 MINUTOS PARA O PRIMEIRO IMPACTO "

A INTENSA LUZ SOLAR SE CONVERTE NOS FOGUETES DE DESACELERAÇÃO DE UMA NAVE DA FORÇA DE BUSCA E SALVAMENTO, QUE SE APROXIMA DA ESFERA, QUE AINDA MANTÉM SEU ASPECTO DESGASTADO E SOMBRIO. ELA É UM “PLANETA MORTO”.

A primeira nave destacada pela Força de Busca e Salvamento gira no espaço, e com pequenos jatos de manobra se posiciona exatamente sobre o polo da esfera, ganhando rotação para se equalizar com a rotação dela. Com um pequeno empuxo de seus jatos principais avança, indo acoplar o anel de atracação em sua proa ao disco de contato da esfera. Mais uma vez por rádio, se ouve o piloto da nave recém chegada dizendo:

COM. DARIO REIS – NAVE DE BUSCA E SALVAMENTO  ABADDÓN RX4:

“Controle da missão, aqui é a Abaddón RX4, comandante Reis, conseguimos uma atracação perfeita com a esfera, as alterações feitas pelo tenente Mebarak funcionaram com o sistema antigo da esfera. Temos permissão para abordagem?”

CONTROLE DA MISSÃO DE BUSCA E SALVAMENTO:

“Abaddón RX4, estamos usando a antena do Maranhão, se perceberem algum desvio de frequência, não se alarm... A antena sul-africana está em repar... Congratulações pelo voo plano, e em resposta a sua pergunta: permissão concedida. Boa sort... Em cerca de meia hora a segunda nave deve chegar aí, e... Precisar de acesso por uma escotilha, já que... Confirma que a esfera só tem um anel de atracação.”

COM. DARIO REIS – NAVE DE BUSCA E SALVAMENTO  ABADDÓN RX4:

“Estamos tendo falhas de rádio, sim. Existe um radiofarol na esfera emitindo um pulso confuso, isso deve estar atrapalhando ainda mais as comunicações. Vamos entrar os dois, e Mebarak acha que a cerca de vinte e cinco metros temos uma escotilha de fácil acesso para o pessoal da segunda nave. Já podem confirmar qual foi a segunda nave destacada para cá?”

CONTROLE DA MISSÃO DE BUSCA E SALVAMENTO:

“Já... RX7... Partiu... Ela... Lua...”

COM. DARIO REIS – NAVE DE BUSCA E SALVAMENTO  ABADDÓN RX4:

“A interferência de rádio está aumentando. Vamos abordar imediatamente a esfera e tentar identifica-la e desativar este radiofarol em curto. Daqui a duas horas nós emitiremos um relatório por pulso de maser. Abaddón RX4 desligando.”

A escuridão cinzenta do interior da esfera parece transpirar uma dor antiga e esquecida, mas ainda viva. As imagens são obscuras e difusas, imersas em uma escuridão opressiva, espessa, parece que percorremos um pequeno e lúgubre corredor, ou, para a imaginação tocada pelo medo, parece que descemos pela garganta monstruosa de uma criatura que nos devora. Então, subitamente, um som metálico, um ranger, uma lâmpada tremeluzente e de um verde desgastado pisca duas vezes, e uma fresta de luz, bem no meio do campo de visão, se forma e se expande. À volta dela temos a sensação de que, junto com o negrume, coisas escuras e fugidias se encolhem e correm da luz que entra, podemos ouvir mesmo, quase no limite entre o som e o silêncio, um choramingar, gritos muito distantes talvez, e um esgar horrendo que parece demonstrar todo o terror que aquele lugar escuro oculta. A perspectiva gira. Não estávamos descendo, mas subindo, do interior para o casco polar da esfera. É a escotilha, a porta de acesso do compartimento estanque do anel de atracação, sendo aberta pelos dois homens da Abaddón que estão entrando. Eles usam trajes pressurizados, flutuando mansamente, na ausência de gravidade do eixo da esfera, e têm somente as luzes que carregam para se guiarem no escuro. No rastro do facho de luz, as coisas obscuras se retorcem e se encolhem, fugindo.

COM. DARIO REIS:

“Ramon! Viu aquilo?”

TEN. RAMON MEBARAK:

“O quê? Não, não, desculpe, eu estava prestando atenção ao sensor atmosférico. Tem ar aqui. Está embolorado, mas respirável. O que foi que viu?”

COM. DARIO REIS:

“Esquece. Se tem ar, tem som... Esse lugar parece morto, mas talvez tenha alguém por aqui. Esse poço sem gravidade deve seguir direto até o núcleo da esfera. Será que dá para ouvir alguma coisa?”

TEN. RAMON MEBARAK:

“Vou ligar o receptor de som externo do meu traje...”

COM. DARIO REIS:

“Ramon... O que houve? Está pálido.”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Ouvi umas vozes...”

COM. DARIO REIS:

“Eu não ouço nada. E meu sistema de microfones externos está em ordem. Talvez algum sobrevivente tenha falado rapidamente pelo intercomunicador de bordo, e não percebi.”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Não, não... Algo muito baixo, quase abaixo do nível de audição... Não está ouvindo mesmo? Um murmúrio baixo, como... Como... Uma prece, talvez, um falatório baixo e repetitivo...”

COM. DARIO REIS:

“Prece? Não! Não ouço nada. Sua mistura respiratória está bem?”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Verificando... Estou bem. Não é delírio, há um som sim. Bem, detectamos fontes de energia funcionando aqui. Talvez algum aparelho ainda ligado, ou alguma gravação em um compartimento longe daqui, quem sabe? Mas tem alguém murmurando algo aqui dentro...”

COM. DARIO REIS:

“Talvez teus ouvidos sejam melhores que os meus. Temos menos de quinze minutos para alcançar o equador da esfera e preparar uma escotilha externa para o pessoal da outra nave entrar. Consegue ignorar o som e seguir adiante?”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Mas é claro. Perdi o medo do escuro aos oito anos de idade. E as tais vozes ainda não estão me mandando matar ninguém, comandante.”

Mebarak sorri, e Reis o observa por um momento, e então dá de ombros, com um meio sorriso, e seguem por um corredor lateral. E a escuridão, regozijando-se e correndo, faminta e formada por montes de seres feitos de treva, vai atrás dos dois homens, devorando as réstias de luz que eles deixavam para trás.

Aqueron (*)

TITLE CARD:

"PARTE IV

NAS SENDAS ESCURAS: O BARQUEIRO.

5 HORAS E 46 MINUTOS PARA O PRIMEIRO IMPACTO"

O VAZIO SALPICADO DE ESTRELAS, AO FUNDO O SOL BRILHA POUCO ACIMA DA TERRA, QUE É VISTA DO TAMANHO DE UMA MOEDA. RECUANDO, AS ESTRELAS, O SOL E A TERRA SE DISTORCEM, SUJOS, E PERCEBEMOS O GROSSO VIDRO DE UMA ESCOTILHA, E RECUANDO AINDA MAIS, DOIS HOMENS TRABALHAM NESTA ESCOTILHA, DEITADOS CONTRA ELA.

Os dois homens estavam agora na área do equador da esfera, “deitados” na superfície interna do casco exterior, pois a gravidade artificial no equador da esfera era na realidade força centrífuga, que os obrigava a ficarem em pé contra a face interna da gigantesca bolha de aço. No “chão”, sob eles, jazia a escotilha externa. Eles haviam despressurizado a câmara em que estavam, e  Mebarak usava um sistema portátil de computador pouco maior que a palma de sua mão, e fino como uma prancheta, para acessar os sistemas eletrônicos de travamento da escotilha externa. Reis forçava, resmungando um pouco, o sistema circular de travamento. O rádio ainda não funcionava, mas o procedimento de entrada do pessoal da outra nave de busca e salvamento havia sido definido antes da falha total do rádio de longa distância. Eles tinham que abrir aquilo ali para que os outros entrassem.

COM. DARIO REIS:

“Nnnnnn... Ok, está abrindo... Mebarak, e as vozes?”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Ainda estão lá... Mas estão mais indistintas.”

COM. DARIO REIS:

“Devemos estar longe da fonte agora. Ainda bem que isso abriu rápido. Em alguns minutos eles chegam aqui...”

Alguém! Um traje! Um corpo? As luzes internas de um capacete formam sombras nos olhos dela, como se as órbitas fossem profundas e horrendamente vazias. Por um segundo Ramon congela, e Reis tenta se afastar da porta de um salto. Então a pessoa envolta no traje espacial começa a entrar, e estende a mão. Mebarak hesita, mas acaba por tomar a mão da mulher, que se projeta para dentro da esfera. Reis é o primeiro a falar:

COM. DARIO REIS:

“Como fez o trajeto da RX7 até aqui tão rápido?”

DRA. SHARON:

“O caminho foi fácil. Muitas estruturas de apoio. Assustei vocês?”

TEN. RAMON MEBARAK:

“Eu... Creio que sim... Não esperávamos que você viesse tão rápido.”

COM. DARIO REIS:

“Veio sozinha?”

DRA. SHARON:

“Nunca estou só.”

COM. TALES LUCANO:

“Podem me dar um ajuda aqui?”

Outro astronauta entra pela escotilha. Novamente Mebarak estende a mão e ajuda o novo tripulante a ficar de pé na parede interna da esfera metálica. Todos se entreolham por um momento, então Lucano se apresenta:

COM. TALES LUCANO:

“Tales Lucano, se precisarmos destruir a esfera, eu farei isso, sou perito em explosivos.”

COM. DARIO REIS:

“Comandante Dario, estou no comando desta missão.”

DRA. SHARON:

“Sharon. Sou médica.”

TEN. RAMON MEBARAK:

“Eu sou engenheiro de sistemas... Ramon. Vamos andando? Para isso acabar logo... Ei, Dario, as vozes... Pararam...”

COM. TALES LUCANO:

“Vozes?”

COM. DARIO REIS:

“Explico no caminho. Achamos que existe uma fonte de áudio funcionando em algum lugar distante desta esfera. Se o som parou, acho que isso é um bom sinal. Estamos ficando calmos por aqui, Ramon... Bem-vindos... Doutora, comandante... Vamos.”

Sharon olha para Mebarak de forma enigmática, e ele devolve o olhar. Enquanto isso Reis fecha a escotilha externa, indo em direção ao centro da esfera. Lucano lança um olhar para a mulher, e murmura, enquanto mergulham na escuridão interna:

COM. TALES LUCANO:

“Médica...”

Aqueron (*)

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"PARTE V

NAS SENDAS ESCURAS: MORTE COMO COMEÇO.

4 HORAS E 53 MINUTOS PARA O PRIMEIRO IMPACTO"

MAIS UMA VEZ OS CORREDORES ESCUROS. AGORA SEM OS TRAJES, DEIXADOS PARA TRÁS PARA QUE ELES GANHASSEM AGILIDADE, OS QUATRO ASTRONAUTAS CAMINHAM SEGUINDO OS FACHOS AZULADOS DE SUAS LANTERNAS. NOVAMENTE A ESCURIDÃO A VOLTA DELES PARECE SE RETORCER, ENQUANTO OS HOMENS E A MULHER ULTRAPASSAM O MAIS RÁPIDO QUE PODEM CORREDORES, PASSADIÇOS, ESCOTILHAS, E UM OUTRO SEM NÚMERO DE ACESSOS NO LABIRINTO INTERNO DA GRANDE ESFERA.

Os três homens seguem a frente. A mulher vem por último. Vez por outra Lucano lança um rápido olhar para ela, pois ele está logo à frente de Sharon. Há muitos minutos todos caminham sem dizer uma palavra, oprimidos pela escuridão, e pelos sons. As vozes que enervaram Mebarak se calaram, mas outros barulhos pareciam aumentar e se diversificar, à medida que mergulhavam mais e mais na esfera. Sons de ranger, como se o metal da esfera estivesse se rasgando lentamente em algum lugar. Às vezes um chicotear denotava que tirantes de aço se rompiam aqui e ali, explodindo em um grito metálico.

COM. DARIO REIS:

“Ramon, acha mesmo que foi uma boa ideia entramos sem os trajes pressurizados?”

TEN. RAMON MEBARAK:

“A estrutura geral da esfera parece bem comprometida, mas não detectei nenhuma rachadura no casco, nem vazamento de pressão interna. Acho que seremos mais rápidos sem os trajes.”

COM. TALES LUCANO:

“Entrar e sair bem rapidamente parece ser o que quer, não é engenheiro?”

Mebarak se vira para Lucano com cara de poucos amigos, mas um violento estalar seco faz com que ele largue a lanterna. Reis se vira para eles (ele era o primeiro da fila), mas Ramon tentava pegar a lanterna, Tales havia desaparecido, e Sharon mantinha o facho de sua lanterna direto para frente, cegando Dario. Por um momento reinou uma confusão de luz e escuridão, e as vozes desencontradas:

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“O que houve? Quem é? O que é isso? Tire a luz da minha cara, doutora!”

DRA. SHARON:

“Lucano. Ele se foi...”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Lance a luz aqui! Preciso achar minha lanterna! Está escuro! Algo o atacou!”

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“O que foi isso, Ramon? Explodiu algo? Quem atacou?”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Ali! Um cabo de aço se rompeu!”

DRA. SHARON:

“Achei o comandante Tales.”

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Onde? Mostre!”

Mebarak acha sua lanterna, que havia se desligado. Ela a ativa rapidamente, ilumina por um breve momento o cabo de aço recém partido que balança lentamente em um canto, e os fachos de luz convergem para se unir ao de Sharon, e iluminam Tales. O comandante jaz deitado no chão em um canto, não se vê nenhum ferimento, apenas o peito do macacão de Lucano está sujo de graxa em um tira que cruza o peito. A médica se agacha rapidamente, e examina o homem, dizendo por fim, em seu tom monocórdio:

DRA. SHARON:

“Está morto. Ao que tudo indica a pancada do cabo de aço não o cortou, mas provocou alguma concussão, ou parada cardíaca. Vou esclarecer na autópsia.”

Ocorre um minuto de silêncio, quando eles se entreolham.Dario mais uma vez ilumina o cabo de aço, e novamente, ele tem a impressão de ver a escuridão em volta do cone de luz de sua lanterna se contorcer.

TEN. RAMON MEBARAK:  (Vozes Murmurando)

“Eu... Deveria ter previsto isso...”

DRA. SHARON:

“Ninguém prevê esse tipo de coisa, Ramon.”

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Ela tem razão.”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Vamos levar o corpo para a nave...”

DRA. SHARON:

“Sejamos práticos: temos pouco tempo. Vamos ao centro da esfera, verificar se podemos ativá-la e tirar ela da rota de colisão. Quando voltarmos, levamos o comandante Lucano conosco.”

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Seu pragmatismo é impressionante, Sharon.”

DRA. SHARON:

“Ossos do ofício.”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Dario, acho boa ideia terminar logo a missão...”

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Ok. Vamos em frente. Tem certeza de que achamos Lucano quando voltarmos?”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Estou mapeando os corredores em meu PAD. Vamos voltar exatamente por onde entramos.”

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Vamos seguir em frente. Ramon, as vozes...”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Está ouvindo?! Consegue ouvir?”

DRA. SHARON:

“Ignorem. Vocês precisam ignorar e focalizar na missão.”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Sharon, não está ouvindo?”

DRA. SHARON:

“Não, Ramon. Alucinação auditiva. Ouça, comandante, vocês estão sob forte estresse. Esta é a hora de por em prática o treinamento que tiveram, e se concentrarem na missão. Confiem em mim.”

Há um silêncio constrangido. Então Dario começa a caminhar de novo em direção ao centro da esfera, seguido rapidamente pelos outros. Sharon lança de longe um último raio de luz sobre o corpo de Lucano. O braço do homem, que a médica pousou sobre o próprio colo do morto, começa e escorregar lentamente em direção ao piso, palma para baixo, quase como se ele tentasse se apoiar. Então Sharon  parece ficar nervosa, e se volta para os outros, apressando o passo.

DRA. SHARON:

“Depressa. Temos pouco tempo.”

Aqueron (*)

TITLE CARD:

"PARTE VI

NAS SENDAS ESCURAS: O VALE DA MORTE.

3 HORAS E 25 MINUTOS PARA O PRIMEIRO IMPACTO"

CAMINHAM NA ESCURIDÃO, AS QUATRO ALMAS, NA SUPERFÍCIE MAIS INTERNA DA ESFERA, ONDE EXISTE UM MUNDO CURVO, UMA PLANÍCIE ESCURA, COBERTA POR UMA PAISAGEM ANTES VERDEJANTE, COMO UM VASTO PARQUE, AGORA CHEIA DE GRAMA TURVA, E ÁRVORES MORTAS E RETORCIDAS VIVENDO AS CUSTAS DA LUZ ESMAECIDA QUE O NÚCLEO DA ESFERA AINDA PROJETA. A ECOSFERA INTERIOR É UM MUNDO MORIBUNDO, EM SEUS ESTERTORES, MERGULHADO EM SEMI ESCURIDÃO.

Bem no centro de tudo, acima dos astronautas, está o núcleo de energia da esfera. A primeira vista encarar aquilo foi chocante, e os homens ainda olhavam para ele com um temor respeitoso. A médica nem sequer olhava para aquilo. O núcleo é uma esfera também, bem no centro absoluto da esfera Bernal, e é de fato uma visão sombria, como que uma grande (cera de vinte metros de diâmetro) bolha de água obscura, turbulenta, dentro da qual explodiam silenciosos relâmpagos azulados. Eram estes relâmpagos que emprestavam o resto de luz àquela paisagem em eterno anoitecer

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Já viu um núcleo de energia assim, Ramon?”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Nunca. Ele está em perfeito equilíbrio no centro de gravidade da Bernal. Parece uma bolha de plasma.”

Enquanto eles olham para cima, e apontam para lá suas lanternas (a luz sobe e refrata de formas estranhas e fantasmagóricas), Sharon gira o facho de sua lanterna à volta deles, uma volta completa, partindo de um afloramento de rocha próximo, passando pelos dois homens, e voltando ao afloramento, mas pouco antes de chegar passam por silhuetas humanoides na distância obscura, quase no limite da luz de sua lanterna. Assustada, ela volta rapidamente a luz, e por um segundo não vê nada, então ao voltar ao afloramento de rocha, vê as coisas odiosas sobre ele! Sedentas, horrendas!

DRA. SHARON: (Vozes Murmurando)

“Deus do céu! Nos proteja!”

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“O que foi, Sharon?”

DRA. SHARON:

“Nada! Acho que aquele cubo negro lá na frente é alguma unidade de controle, veja.”

Os homens veem o quadrado negro, à distância. Anima-se de terminar logo com aquilo, e sair depressa daquele mundo morto, se apressando sem mais conversar a seguir naquele rumo. Em mais alguns minutos estão de frente para o cubo, Ramon se senta em uma pedra próxima, e respira fundo várias vezes.

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Ei, Ramon, está bem?”

DRA. SHARON:

“Deixe-me ver você...”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Estou tendo um pequeno ataque de pânico. Mas estou conseguindo me controlar, tudo bem. Acho que meu medo de escuridão não passou... E essas malditas vozes que não calam.”

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Preciso que veja se consegue ativar esta unidade de controle.”

DRA. SHARON:

“Precisamos muito de você, Ramon.”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Tudo bem... Deixe-me ver... É um núcleo remoto de computador, quer dizer que em algum lugar lá atrás tem uma sala de controle...”

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Não temos tempo de procurar. Dá para operar isso daqui?”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Sim, esta é uma unidade bem antiga, mas tem uma interface local aqui, olhe... Uma conexão padrão StormWire 2.1. Trouxe algumas, mas por azar não tenho uma 2.1 aqui. Tenho que voltar a nave e pegar um adaptador para meu PAD se conectar com isto.”

DRA. SHARON:

“Seus batimentos cardíacos estão acelerados, acho bom  não se esforçar demais.”

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Ok. Eu vou. Onde estão as ferramentas que precisa?”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Tudo bem, você é mais rápido que eu... Me trás a maleta de interfaces. É pequena, e está numerada com o código INT-32, você a encontrará no armário 2 da engenharia da Abaddón.”

DRA. SHARON:

“Comandante, por favor, seja rápido. Mas não dê ouvidos ao que encontrar pela frente. Essa escuridão está mexendo com nossas percepções, não vá se perder.”

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Minha preocupação com a missão é maior que o resto. Perdemos nosso técnico em explosivos, e temos cerca de 3 horas para dar um empurrão nessa esfera para longe da Tsien! Se não conseguirmos, teremos que explodir a RX7 junto com essa esfera.”

TEN. RAMON MEBARAK: (Vozes Murmurando)

“Concordo, é a única maneira de acabar com isso sem um especialista aqui.”

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Programa seu PAD para me mostrar o caminho de volta, e me passe ele. Vou indo, esperem aqui.”

E Dario começa a correr pela planície curva, seguindo o caminho indicado pelo PAD em sua mão. Mebarak, ainda sentado na pedra, e Sharon, silenciosa e vigilante, em pé ao lado dele, ficam olhando o comandante desaparecer e ser engolido pela escuridão coleante.Durante o trajeto, Dario é assombrado por vultos e sussurros, mas prossegue, aparentemente inabalável. Aos poucos ele vai cedendo, e parece ter dificuldades de respirar. A energia de sua lanterna está cada vez mais fraca, e é com ela já quase se apagando, e com a sensação de que a escuridão o está tentando agarrar, que o comandante Dario percorre os corredores.

Aqueron (*)

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"PARTE VII

NAS SENDAS ESCURAS: LÁZARO.

2 HORAS E 48 MINUTOS PARA O PRIMEIRO IMPACTO"

OS CORREDORES PARECEM NOVAMENTE A GARGANTA ASQUEROSA DE UM MONSTRO, OU TALVEZ O INTERIOR DE UMA IMENSA SERPENTE QUE OS ENGOLIU. A VOLTA, PELAS PAREDES, HORRORES SEM NOME SE LANÇAM SOBRE O ASTRONAUTA, PROTEGIDO POR UMA RÉSTIA DE LUZ.

O comandante Dario se arrasta pelos corredores, se esgueirando entre escuridões pegajosas e coleantes, arfando sem ar, e suando copiosamente, tentando manter-se concentrado em chegar a nave. Ele chegou a sua nave, pegou a maleta que seu engenheiro precisava, e colocou nova bateria na lanterna, mas parece que a própria escuridão estava sugando a energia dela, que se exauria rapidamente. Dario sacode a lanterna e apressa o passo. Mas subitamente o comandante congela. Sua lanterna se paga lentamente diante de seus olhos aterrorizados, e as vozes horrendas aumentam tremendamente, e as criaturas da sombra começam a avançar sobre ele, cuja respiração está cada vez mais acelerada. Súbito, quando ele percebe que a luz vai se apagar, e que os monstros vão devora-lo no esquecimento da noite eterna das entranhas da esfera, ele fecha os olhos, e grita... Mas nada acontece. Ele abre lentamente os olhos, e percebe que está iluminado pelo foco de uma outra lanterna. Alguém veio em seu encontro.

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Ramon?”

COM. TALES LUCANO: (Vozes Murmurando)

“Comandante! Dario! Dario! Graças a Deus!”

Foi subitamente que Dario viu que quem segurava a lanterna era um homem morto, um homem morto que o agarrava pela manga do traje, e parecia em desespero.

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Porra! Porra! Porra, me solta, me solta, meu Deus! Meu Deus!”

COM. TALES LUCANO: (Vozes Murmurando)

“Graças a Deus! Eu encontrei você! Estava perdido na escuridão!”

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Sai de perto de mim! Me solta! Você ta morto!! Você morreu!”

COM. TALES LUCANO: (Vozes Murmurando)

“Não! Não! Não! Olhe, eu sou de carne e osso! Toque meu braço, porra! Estou vivo! Estou vivo!”

Tales agarrava a mão de Dario, que ameaçava soca-lo, e fazia o comandante da Abaddón tocar seu braço e seu rosto. Tales estava em frenesi, e Dario quase tendo um colapso nervoso, mas aos poucos o comandante Reis foi se controlando, então agarrou os ombros de Tales, dizendo:

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Eu vi você morrer. Sharon disse que morreu!”

COM. TALES LUCANO: (Vozes Murmurando)

“Estou vivo! Essa mulher que vocês trouxeram está tentando enganar todo mundo! Estou vivo! Ela nem deve ser médica mesmo...”

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Ei! Calma! Como assim ‘nós trouxemos’? Sharon veio com você!”

COM. TALES LUCANO: (Vozes Murmurando)

“Merda nenhuma! Essa maluca estava aqui quando cheguei!”

Dario ficou mudo. Por um longo tempo ficou agarrado à lanterna e ao ombro do homem na sua frente, sólido, real. Reis tentou se lembrar da chegada da mulher, e sua expressão foi ficando mais e mais pálida conforme ele lembrava de que achou estranho que a mulher chegasse tão rápido a bordo, pouco depois de a outra nave chegar. Foi rápido demais. Impossível. Ela estava do lado de fora da porta o tempo todo, e quando Tales chegou ela já estava dentro da esfera, por isso ele pensou que ela havia vindo na Abbadón.

COM. DARIO REIS: (Vozes Murmurando)

“Merda! Ramon está sozinho com ela, ela pode pegar ele pelas costas, e acabar com a esfera!”

Dario tomou a lanterna de Tales e correu, desesperadamente pelo túnel escuro. Atrás dele Tales tentava o acompanhar, correndo também, e berrando:

COM. TALES LUCANO: (Vozes Murmurando)

“Não! Vamos embora! Me leve para fora! Me dá essa luz! Ele está morto, teu engenheiro já ta morto! Filha da puta!!! Volta!”

Dario correu o máximo que pode, por todo o caminho de volta, as vezes ouvindo Tales xingando ele atrás de si, as vezes ouvindo gritos de terror do comandante da RX7, mas quando se virava, via o homem vindo correndo atrás de si, e continuava em frente.

Aqueron (*)

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"PARTE VIII

NAS SENDAS ESCURAS: A FERIDA.

1 HORAS E 08 MINUTOS PARA O PRIMEIRO IMPACTO"

O NÚCLEO DA ESFERA ARDIA EM UM PULSAR ASSOMBRADO E ENSANGUENTADO, PINTANDO A PLANÍCIE DE TONS SANGRENTOS. ONDE A LUZ SANGRENTA TOCAVA, BOTAVAM SOMBRAS, QUE DEPOIS SE CONVERTIAM EM PESSOAS FERIDAS, CORRENDO, ENCENANDO O MOMENTO DE SUAS MORTES HÁ TEMPOS, QUANDO A ESFERA SE PERDEU PELA PRIMEIRA VEZ.

Foi quando “eles” começaram a agarra-lo. Dario estava percorrendo a planície, quando percebeu que o núcleo de energia acima dele se incandesceu com uma luz mortiça, venosa  e fantasmagórica. A planície então estava repleta de pessoas. Havia gente correndo apavorada por toda parte, e alguns muito feridos e descarnados. Havia fogo, havia explosões. Mas não havia um único som a não ser um pulsar surdo e assustador que vinha do núcleo de energia lá em cima. Por um momento, Dario divisa o cubo negro, e vê a silhueta de Ramon trabalhando nele. O comandante então perde o senso de direção, e começa a ser contagiado pelo pânico das almas perdidas ali, e começa a gritar, então alguém toca seu ombro, ele se vira, pronto para bater com a lanterna:

COM. DARIO REIS: (Vozes Gritando! Gritando de Horror! De Dor! De Pavor!!)

“Ahhhhhhhhhhhhhhhhh!!!!”

Mas dedos suaves encostam-se a seus lábios. Sharon, no meio da turba irada de pessoas morrendo, segura o braço de Dario, que hesita em bater nela. Então a médica diz:

SHARON:

“Logo você estará totalmente louco. Mas ainda é um homem prático e sabe que não tem nada a perder... Confie em mim, e feche os olhos, vou te ajudar a não ver essa gente por um momento.”

As pessoas estão sujando Dario com sangue. Ele primeiro faz uma expressão furiosa, e então a escuridão começa a engolfá-lo, e seus olhos vão mudando, de fúria a terror, e sua boca se contorce em um esgar, então ele pisca, e sua expressão é a de um menino morto de medo quando ele vai fechando lentamente e forçosamente os olhos...

DRA. SHARON:

“Abra os olhos... Vamos, abra os olhos...”

Ele abre os olhos, e ouve o mais tenebroso silêncio, e ainda assim fica aliviado por não ouvir mais os que estavam morrendo. Lágrimas escorriam de seus olhos, então ele empurra a mulher para longe de si, e percebe que está ao lado de Ramon, que trabalha no cubo negro. Pouco mais à frente, Tales Lucano está agachado no chão, chorando, balbuciando algo. Não há mais ninguém na planície, apenas o núcleo pulsando, incandescendo em vermelho. Ramon olha para Dario, pega das mãos trêmulas do comandante a maleta, prepara seu PAD, e enquanto aciona a interface, ele diz:

TEN. RAMON MEBARAK:

“Vou desativar isso, comandante. Essa coisa não é um núcleo de energia. É um ferimento, um corte no espaço. Tem que ser cauterizado!”

SHARON:

“O núcleo vai disparar uma rajada de plasma, só que desta vez o engenheiro aqui vai calcular a força do pulso, para fechar a ferida para sempre.”

COM. DARIO REIS:

“Ramon, se essa coisa bater na Tsien, muito vão morrer...”

TEN. RAMON MEBARAK:

“Se o núcleo se abrir totalmente, ele vai atravessar a Tsien, e vai cair na Terra, e toda a superfície do planeta vai ficar igual a esta planície, um gigantesco limbo de gente presa entre duas dimensões, eternamente morrendo.”

SHARON:

“Não há saída, essa ferida purulenta tem que ser fechada aqui.”

com uma raiva indisfarçável no olhar, o comandante Reis fitou Sharon, que ficou impassível diante da ira do homem. Então o primeiro imenso lampejo branco do núcleo iluminou toda a planície por um segundo, e todos sentiram a alma queimar, e gritaram. Dario sentiu-se sendo erguido por alguém, e percebeu ser seu amigo, Ramon, que dizia, em uma voz longínqua, pois parecia que a cada pulso de luz branca, a própria luz abafava o som:

TEN. RAMON MEBARAK:

“Vamos! Vamos embora! Fizemos tudo que pudemos!”

E desataram a correr, todos, correndo como se estivessem sendo seguidos pelo próprio fogo do inferno. Então um tremendo lampejo de luz torna tudo branco.

Aqueron (*)

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"PARTE IX

NAS SENDAS ESCURAS: A VERDADE DERRADEIRA..."

A INTENSA LUZ PARECEU PREENCHER E DESINFECCIONAR CADA MEANDRO DA ESFERA, PREENCHENDO E QUEIMANDO A ESCURIDÃO CHEIA DE PESADELOS. AGORA FINALMENTE A LUZ DIMINUÍA, E OS ASTRONAUTAS EM FUGA CHEGAVAM, DESESPERADOS, AO ÚLTIMO COMPARTIMENTO ANTES DA SALA DA ESCOTILHA QUE LEVAVA PARA FORA DA ESFERA.

Eles precisavam passar daquela porta, precisavam entrar ali, vestir seus trajes, e sair. Nem tentaram chegar ao anel de atracação, ele estava longe. Sairiam o mais rápido possível daquela esfera, e tentariam chegar a nave por fora. Até ficar a deriva no espaço era melhor que morrer ali. Mas de algum modo a última porta antes dos trajes e da liberdade, estava lacrada, e de longe, de trás deles, um terrível rumor, e um ranger terrível de metal, os impelia a fugir antes que tudo fosse destruído, ainda assim, não conseguiam abrir a penúltima escotilha antes do espaço e da liberdade.

COM. DARIO REIS:

“Eu não fechei essa merda assim! Isso parece que foi soldado!”

SHARON:

“Calma, há uma outra saída, e eu vou mostrá-la a vocês.”

TEN. RAMON MEBARAK:

“Meu Deus! Olha a escotilha lá embaixo! Onde foram parar as estrelas?!”

COM. TALES LUCANO:

“Não! Eu não vou morrer aqui! Eu não vou morrer aqui!”

SHARON:

“Não precisa mais se preocupar com isso. Assim que ficarem calmos, vão entender.”

COM. DARIO REIS:

“Cala essa maldita boca, e ajuda a abrir essa escotilha!”

SHARON:

“Ela não pode mais ser aberta, Dario. Ela não dá para lugar algum. Vou mostra a saída...”

Aqueron (*)

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"PARTE X

NAS SENDAS ESCURAS: DEIXAI AQUI, Ó VOZ QUE ENTRAIS..."

A INTENSA LUZ DO NÚCLEO JÁ SE APAGA, E A PLANÍCIE A VOLTA DO NÚCLEO DE CONTROLE COMEÇA A VOLTAR A ESCURIDÃO, QUE A ENGOLIA, COMO SE ELA, A PLANÍCIE, E TUDO MAIS, JAMAIS TIVESSEM EXISTIDO.

Enquanto as últimas réstias de luz se esgotam, percebemos que tudo parece estar envolto em uma luz mais suave, como a luz do luar, e que a planície não está de todo deserta, existem três homens ali, estendidos no chão, pegos pelas costas pela tremenda rajada de plasma do núcleo, os homens jazem, mortos, Dario, Ramon, e Tales. Mas ainda assim, nossa visão deste mundo moribundo passeia pelos corredores, perfazendo o caminho agora de fuga, e passa pelas almas dos homens mortos, que tentam, desesperadamente e em vão, abrir uma escotilha que jamais os deixará sair. Atravessamos a porta de aço, e vemos os rostos desesperados das almas que estão sendo levadas da vida no visor da escotilha trancada. Tudo está ficando escuro, enquanto passamos pelas silhuetas dos trajes espaciais. Então mergulhamos em direção ao chão, e atravessamos a última escotilha, enquanto os rostos na janelinha lá atrás se perdem na escuridão, e estamos fora da esfera, e nos distanciando dela, longe, cada vez mais longe.

CONTROLE DA MISSÃO DE BUSCA E SALVAMENTO:

“Abaddón RX4, ainda não recebemos seus relatórios. Estamos detectando uma perda considerável de massa da esfera... O que está acontecendo por aí?”

Lentamente a esfera mergulha de novo no esquecimento, levando consigo os homens que foram escolhidos por alguém do outro lado para fechar este caminho entre os mundos. Lentamente a esfera vai se desmaterializando.

CONTROLE DA MISSÃO DE BUSCA E SALVAMENTO:

“Abaddón RX4! Onde vocês estão? Não temos contato de radar! Nós perdemos eles...”

FIM

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Licença Creative Commons

Aqueron (Roteiro de Telefilme) de Wagner RMS está licenciado com uma Licença Creative Commons - Atribuição-NãoComercial-SemDerivações 4.0 Internacional. Podem estar disponíveis autorizações adicionais às concedidas no âmbito desta licença em contato.c7i@gmail.com.


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4 years ago
No Segundo Livro Da Série Space Opera C7i: Iniciamos Nossa Jornada Pelos Meandros Da Agência, E Começamos

No segundo livro da série space opera C7i: iniciamos nossa jornada pelos meandros da Agência, e começamos a ver que a organização mais poderosa do planeta Terra é tão capaz de cometer erros quanto seus idealizadores humanos, mesmo que eles nem sejam mais tão humanos assim. Enquanto isso, Borges e Milena iniciam a construção de seus laços de amizade e desesperança, enfrentando a morte no mais solitário dos mundos, o espaço. __________ @fraternidadedeescritores #scifibrasil #ficçãocientífica #blackfriday #WagnerRMS https://www.instagram.com/p/CIFBaLTjzJM/?igshid=1ybe4cmwdqfu


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10 years ago

The Last Days on Mars (Fansrev) - Parte 1

ATENÇÃO: Isto é um fanfiction, escrito para servir como crítica de cinema, e não como roteiro comercial, ou seja, sem fins lucrativos. Sugiro que se veja primeiro o filme, e depois se leia o fanfiction, ou melhor, o fansrev (acrônimo de Fan Screenplay Review, ou Revisão de Roteiro Por Um  Fã) abaixo. _ Wagner RMS.

image

A missão International Space Committee - ISC - Aurora é um esforço internacional de exploração do Sistema Solar, e é composta por (a) veículo (sonda Aurora) que deveria executar sondagens e pesquisas por toda a área próxima a Marte, incluindo asteróides cruzadores da órbita do planeta vermelho; (b) três equipes de pouso, que deveriam se revesar por cerca de 24 meses, na construção de bases fixas na superfície de Marte, em suas luas e, se possível, em um dos asteróides visados, e explorar todos estes alvos. A transcrição de gravação abaixo, editada para sua conveniência, seria a versão final do que aconteceu com a equipe de pouso Aurora 2, em seus últimos dias na superfície de Marte antes de serem recolhidos pela sonda Aurora, conforme descrito por Vicente Campos, Oficial Comandante e Engenheiro de Sistemas da missão. A divulgação total ou parcial deste conteúdo é passível de prisão, multa e confisco de bens.

image

GRAVAÇÃO DE RAIO ZULU 7524 CONECTADO, INÍCIO DA TRANSMISSÃO.

Eu tenho cerca de quinze a trinta minutos.

(Um pouco de estática enquanto a antena se alinhava)

Vou resumir tudo. E torcer pro Aurora Lander não reentrar antes do fim.

(Silêncio)

Na verdade, eu não sei ao certo... Não sei ao certo por onde começo.

(Silêncio)

Sim, ah, merda, óbvio, ok... Vou morrer aqui, daí, desculpem, mas não dá pra ser muito delicado.

Então… Na verdade, a situação começou bem antes de nós, quando a primeira equipe de solo construiu e habitou a Base Tantalus. Imagino que já tenham entendido do que eu estou falando, Marko Young, o biólogo que desapareceu. Nenhum corpo, nenhum vestígio, os demônios de areia, essas tempestades que riscam Tantalus, elas enterraram os restos do azarado, depois de algum defeito no traje. Quem mandou andar sozinho? Mas o fato de o equipamento de perfuração e análise do cara ter ficado por lá, com o painel solar aberto, e emitindo de vez em quando dados e pings de localização, criou um clima meio sombrio, meio idiota entre nós, e surgiu o papo furado sobre ele ter encontrado algo… Bem, agora eu sei que é bem provável mesmo que o cara tenha encontrado algo. Lembro dele da Terra, nos treinamentos, texano, intragável, mas muito inteligente. Deve ter ido atrás de algo, sozinho. Vai ver para ficar somente para ele a glória da descoberta.

Encontrou e foi encontrado. O que o encontrou teve quase oito meses para, a bem da verdade, digerir e entender o cara. Digerir, espero, no sentido de metáfora.

Eu não posso me prolongar, então lá vai. Existe vida em Marte, e de algum modo ela é especializada em nós, ou é especializada em qualquer outra forma de vida, em estudar elas e sobreviver através delas, ficando especializada em nós por causa do Marko.

Vocês vão entender. Recebemos liberação para estudar a área onde Marko desapareceu, pela primeira vez em meses as tempestades ciclônicas deram um tempo, e alguém no Controle da Missão ficou curioso com a boataria em torno dos demônios de areia, e estava longe deles o suficiente para mandar os buchas de canhão aqui para averiguar.

Eu, Lane e Dalby fomos destacados por Brunel para resgatar o equipamento de Marko. Chegamos lá no Rover dois. Dalby ficou nele, enquanto eu e Lane… Deus, sinto falta de Lane… Eu e Lane subimos as rochas aplainadas e fomos triangulando, por triangulação unitária mesmo, já que mais uma vez os satélites estavam fora do ar, e, por sorte, depois de cerca de uma hora, encontramos os equipamentos do pobre astronauta perdido, estranhamente arrumados numa depressão, havendo lá, inclusive, um tablet que tinha sido meticulosamente desmontado. A noite estava caindo, e foi o pisca-pisca da luz da antena da sonda perfuratriz, na escuridão da fenda, o que nos atraiu e nos levou direto pra lá. O cabo de força serpenteava, para fora da depressão, e o painel solar estava ligado a ele, aberto e fixo no chão com estacas, os redemoinhos de areia só faziam limpar os painéis, sem arrancar, e era por isso que eles funcionaram sem parar. Comentei que aquilo não parecia o trabalho de um biólogo.

(Silêncio)

Estávamos há cerca de meia milha do Rover.

“Alguém está tentando entrar na câmara de compressão”, eu lembro até do tremor na voz dela. A base avisou que ninguém tinha nos seguido. Lane e eu corremos de volta. Dalby começou a entrar em pânico. Eu já estava gritando algo como “calma, Dalby, use o painel, trave a comporta!”, e ela dizendo “Eu travei! Quem é?! É algum tipo de pegadinha, Campos? Parem com isso! Estão me assustando! Eu travei, eu travei a comporta externa, mas quem tá aqui sabe o código de emergência!”, e ela começou a chorar e a gritar pedindo, depois implorando que parássemos com a brincadeira! Houve um barulho de descompressão, e nós, Lane e eu, tentamos correr mais rápido. Eu descobri no voo pra cá pra Marte como sou ruim para oxigenar artificialmente, daí então, correndo e berrando dentro de um traje pressurizado, meu CO2 atingiu o limite rapidamente, Lane continuou, disposta e ágil como sempre, mas eu tive que parar pra recuperar a porra do fôlego. Dalby já não gritava mais. Lane chegou lá primeiro, ela sempre foi a mais esforçada e rápida de nós todos.

(Silêncio)

Nunca mais encontramos Dalby, a nossa Dalby de doces olhos azuis.

(Silêncio. Vicente tosse)

Quanto consegui entrar no Rover, só Lane estava lá, parada.

Então ela apontou para o que ela tava olhando, e lembro que meu estômago revirou. Era o capacete de Dalby.

(Silêncio um pouco mais longo)

Procuramos por várias horas, aquela noite, até as baterias do Rover ficarem perigosamente baixas. Ninguém poderia ter certeza de que outra tempestade de areia não desabaria por ali. Mesmo assim pedimos permissão à Base Tantalus para ficarmos por lá. Estávamos em choque, ainda querendo que Dalby voltasse, de algum modo. Brunel fez bem em nos mandar de volta à base, estávamos nos pondo em perigo, e logo os ciclones de areia começaram a dançar por lá, na verdade em toda a região, seria um risco estúpido dormir no Rover.

A transmissão do Comandante para nós foi mais ou menos assim “quero que voltem antes de terem que esperar pelo sol para recarregar as baterias. Desculpa, gente, mas se não encontraram Dalby até agora, minha prioridade passa a ser a segurança de vocês dois” e mais ou menos aqui, nesta altura, houve interferência e uma voz diferente entrou na transmissão, dizendo algo tipo “tragam Aurora de volta”.

Foi apenas um instante, uma frase, mas gelou o sangue de todo mundo.

Lane brigou comigo, não aceitando, racionalizando aquilo, mas Brunel escutou, e tenho a impressão, pelo silêncio relutante dele, que o Comandante achou a mesma coisa que eu. Era a voz rouca e desleixada do texano que treinou com a gente na Terra. Brunel, depois de um tempo, achou que fosse vazamento da memória do diário de missão gravado. O sotaque interiorano e norte americano quase desaparecido, mas que merda, tenho certeza que era o Marko.

Nos reunimos com Brunel e os outros, na sala comum da Base Tantalus, pouco depois de nós chegarmos lá. Irwin tentou seus psicologismos em nós, Lane e eu. Eu estava muito nervoso, mas louco ainda não. Agora não sei, mas ali, naquele instante, eu tinha certeza que Irwin poderia ir se foder.

Contamos tudo de novo pro Brunel, pois viemos o caminho todo discutindo sobre o que aconteceu, e o Comandante orientou Harrington a solicitar instruções ao Controle da Missão, ou seja, vocês aí na Terra. Mal Harrington se sentou na console de comunicação, ele se virou para o sistema ao lado, aquela outra grande tela com as imagens das câmeras externas, chamando a gente para ver, tinha alguém lá fora, entre as rajadas de areia dava para ver alguém, o contorno muito confuso de um traje pressurizado. Um de nós, não lembro direito, talvez a Kim, que chegou por último à reunião, perguntou se não poderia ser a Dalby. Eu, que costumo ficar na minha, mandei calar a boca, Dalby tava morta. Kim Aldrich, mulher de pavio super curto, tava me dizendo para mandar minha mãe calar a boca, ou algo assim, quando Irwin, que havia chegado perto de Harrington e da tela das câmeras, deu um pulo para trás.

Outra sombra apareceu! Agora havia duas silhuetas lá fora.

Aquilo era insano pra gente! O pessoal da sonda Aurora ainda estava longe. Dalby tava sem oxigênio havia horas, e Marko havia meses. Mas não havia ninguém mais em Marte que pudesse estar lá fora, naquele momento! Ficamos como que paralisados, vendo as sombras bruxuleando, distorcidas pela areia, não nos mexemos mesmo quando essas sombras começaram a vir na nossa direção.

Brunel quebrou o silêncio, mandando Harrington enviar a mensagem para o Controle da Missão na Terra, e que ele entrasse em contato com a sonda Aurora. Neste instante percebi pelo canto de olho que a sonda Aurora estava manobrando para entrar em órbita. Foi a nossa última transmissão para vocês na Terra, antes desta aqui, vocês devem ter recebido uns oito minutos depois que Harrington enviou. Os visitantes levaram uns cinco minutos para chegar à nossa eclusa de ar. Um momento antes deles chegarem, quando Kim percebeu a trajetória e resmungou que eles estavam vindo direto pras eclusas de ar, eu agarrei o Comandante e disse que o que tava lá fora sabia os códigos de emergência, que mesmo que nós lacrássemos a comporta, eles iam conseguir entrar!

CONTINUA… Parte 2.

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5 years ago
Story: Missão Cumprida

Story: Missão Cumprida

Google Books: Diferente de outros livros sobre escrita de roteiros, 'Story' é sobre forma, não fórmula. Empregando exemplos de mais de cem filmes, Mckee usa uma filosofia que vai além das rígidas regras para identificar os elementos mais elucidativos que distinguem estórias de qualidade das outras. Começando com definições básicas - O que é um beat? Uma cena? Uma seqüência? O clímax do ato? O clímax do filme? - McKee não apenas desvenda os mistérios da estrutura padrão de três atos, mas também desmistifica estruturas incomuns como as de dois atos, sete atos e oito atos. Expõe as limitações de cada gênero, ressaltando a importância do tema, ambiente e atmosfera, e enfatiza a importância de personagem versus caracterização. Recheado com exemplos de filmes como 'Casablanca' e 'Chinatown', McKee disseca cenas clássicas, guiando-nos passo a passo para revelar não somente como uma cena funciona, mas por que ela funciona. Indo além dos fundamentos da composição para os valores duradouros e conflitos que separam os clássicos do clichê.

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5 years ago
Autor Há Três Bienais

Autor Há Três Bienais

E lá vamos nós, ♥️ Bianca Matos ♥️ e eu. Terceira Bienal do Livro Rio como autor. 😍🙏🏼♥️📚🚀🎬🇧🇷❗

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2 years ago

🥰👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👏🏼👍🏼❗

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